Evolução do mobiliário corporativo seguiu a história das mudanças de layout e de como o trabalho nas empresas foi visto nas últimas décadas. mobilidade e flexibilidade são as palavras que norteiam o futuro do sistema

 

A idéia mais conservadora de mesa de escritório será sempre a daquele objeto quadrado ou retangular, sobre o qual se escreve ou que se usa como apoio para papéis de trabalho. Nos últimos 60 anos, ela não mudou muito em sua forma e uso, mas tem incorporado a cada dia um maior número de funções, materiais, acessórios, equipamentos e até mesmo pessoas ao seu redor.
Inicialmente de madeira e aço, a peça que recebia máquina de escrever e gavetas para papel ficou mais leve, com os aglomerados, os compensados – MDF ou MDP -, o alumínio, ou mesmo o vidro para tampos. Suas superfícies foram se reduzindo, com o surgimento dos arquivos, e a mesa passou a fazer parte de sistemas modulares de divisão de grandes interiores corporativos. Ao receber computadores e outros eletrônicos, a urgência em se encontrar solução para tantos fios acabou se resolvendo por meio da própria tecnologia do novo mundo wireless.

Mas contar a história das mesas é muito mais uma questão de rever como elas foram fabricadas do que analisar a evolução de seu desenho – se elas foram feitas manualmente, por automatização ou em processos mesclados com soldas, estampagem, cortes etc., por exemplo. Nos atuais centros de usinagem qualquer desenho pode ser transferido à máquina de recorte, sem limitações: basta alimentá-la com o material desejado e o desenho vira produto.

“Não que o design seja exatamente o mesmo de 60 anos atrás, mas os projetos ainda são concebidos de acordo com tarefas antigas”, avalia Carlos Maurício Duque dos Santos, professor de design de produto, arquitetura e consultor da Academia de Engenharia e Arquitetura. “O problema é que, mesmo com todo o desenvolvimento de novos materiais e tecnologias, as mesas continuam não atendendo às tarefas e aos usuários, principalmente em seus aspectos antropométricos e biomecânicos”, critica. “Há muito que ser pesquisado.”

Há, contudo, quem acredite que o diferencial na atualidade seja exatamente o investimento em ergonomia: “A altura da mesa, a posição de gaveteiros com corrediças, além dos acessórios, como apoios para os pés, representam uma enorme gama de possibilidades de aplicação dos materiais produzidos pela indústria”, defende Renata de Souza Ramos, consultora do Centro São Paulo Design, do IPT-SP (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).

“É incontestável que, principalmente depois dos anos 90, as mesas de madeira maciça, pesadas e grandes, se tornaram cada vez mais leves, e seus desenhos mais orgânicos”, conclui. “Mas a impressão que tenho, pelo fato de essas formas terem se repetido tanto, é a de que surge um novo resgate do design passado na tentativa de algo diferente, paralelo à tecnologia dos materiais cada vez mais sofisticados”, opina a consultora.

Independentemente de o design ser criativo ou não, o fato é que principalmente nos últimos 30 anos a atuação de sindicatos e a busca por melhores condições de trabalho têm valorizado a ergonomia, e o layout passou a se preocupar não só com a forma e a estética, mas com eficiência, conforto e desempenho, uma vez que o escritório acabou se transformando na “casa” de muitas pessoas.

Para Santos, a análise ergonômica de uma mesma mesa não deve ser feita por um único projetista, mas por dezenas deles: “Não vai ser um objeto para receber um computador, mas para determinado uso do computador, por diferentes tipos de usuários que passarão por ali.

Assim, é preciso saber com que freqüência a mesa será usada, para que, por quem e por quê”. Santos afirma que soluções técnicas já existem: “a limitação é puramente econômica”. O problema, segundo o professor, é investir em uma solução complexa num momento em que produtos se tornam obsoletos em períodos muito curtos de tempo, o que inviabiliza qualquer projeto mais apurado de pesquisa.

Dentro da complexidade que caracteriza o projeto de uma mesa de escritório, está ainda a análise do ambiente onde a mesa se insere. O docente do curso de pós-graduação em movelaria e design de interiores do Senac-SP Roberto Fialho confirma as dificuldades encontradas pelos fabricantes e relembra que “não só a tecnologia da produção, mas também a forma como o trabalho burocrático se modificou nos últimos anos com o avanço da informática” é que dita as regras do jogo.

“Hoje assistimos à total desmaterialização do HD em notebook, o que pode fazer com que a mesa se torne obsoleta em algum tempo.” Mesmo assim, Fialho não acredita que elas deixarão de existir:  “O que se verá é o seu redesenho, considerado em interação com a pessoa que a utiliza”, prevê o professor.

POR GIOVANNY GEROLLA

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