A cada dia que passa, independente do setor de atividade em que atuemos, estamos perdendo mais e mais tempo com reuniões. São milhares de horas, milhões de pessoas e bilhões de dólares sentados em torno de uma mesa, discutindo assuntos variados e todos fingindo que estão interessados ou comprometidos. A administração por consenso parece ter tomado conta das organizações e hoje já se transformou numa praga que se espalha como rastilho de pólvora, quase uma epidemia.
Reunião de planejamento, board meeting, comitê de assuntos financeiros, revisão de orçamento, núcleo de sinergia, grupo integrado de trabalho, qualquer assunto é razão para reuniões intermináveis, onde a única certeza é que em breve teremos outro encontro semelhante em algum lugar do planeta…Enquanto isso, lá fora, o mercado está mudando, comprando, vendendo e tomando decisões.Durante as sessões, há uma falsa sensação de segurança entre todos os presentes. Sentem-se protegidos pelo manto do anonimato decisorial onde, se der certo “eu participei”, se der errado “tinha mais gente comigo”. Quase não há mais espaço para a decisão isolada ou o instinto prevalecendo sobre a análise. Estamos desaprendendo a assumir responsabilidades individuais.
Margareth Tatcher dizia sempre que o consenso é a negação da liderança. Talvez por isso tenha sido tão criticada em vida e reverenciada em morte.
A verdade é que tomar decisões por consenso pode ser politicamente correto, principalmente nas grandes estruturas organizacionais, mas não necessariamente eficiente. Assim como o e-mail interno serve mais para proteger quem envia do que para informar quem recebe, convocar reuniões é quase sempre uma atitude defensiva de dividir responsabilidades e não assumir riscos. E é impressionante como muita gente acabou desenvolvendo todo um ferramental adequado para participar de reuniões.
Eles vão desde laser pointers, data-shows e blocos de anotações com calculadoras embutidas, até uma seleção de frases de efeito que funcionam muito bem nessas ocasiões.
Esses seres são chamados de “executivos de reunião”, uma casta especial de profissionais, normalmente ineficientes no dia a dia da empresa, mas extremamente competentes em participar de boards e comitês. Possuem todo um jargão especial que sempre pega bem, apesar de não significar absolutamente nada, e seu único objetivo é postergar decisões e sair do encontro com fama de ponderado e equilibrado: “Não podemos concluir isso apressadamente” – “Sugiro uma análise mais aprofundada do assunto” – “O momento exige cautela” – “Não podemos nos esquecer de nossos concorrentes” – “Alguém já analisou esses números sob um outro ângulo?” – “Há pesquisas que comprovem o que foi apresentado?” – “Sugiro que se façam mais algumas simulações tomando como base um cenário mais conservador”. É a obviedade covarde prevalecendo sobre a coragem competitiva.
Estudiosos em matéria de política e relacionamento nas organizações afirmam que numa grande empresa você tem mais chance de uma carreira bem sucedida se errar de vez em quando, do que se acertar constantemente. E isso é ainda mais verdade se esses acertos forem individuais. O mais dramático, porém, dessa síndrome reunitiva, é que agora começa a atingir também a área de vendas das empresas. Pessoas que deveriam estar frente a frente com seus clientes e lutando palmo a palmo para a conquista do mercado, encontram-se no quartel-general preparando apresentações. Estão passando mais tempo “vendendo” ideias e conceitos para sua própria empresa do que produtos ou serviços para seus clientes.
É claro que reunião é importante, trocar ideias pode melhorar a capacidade decisorial e incentivar a sinergia deve ser um objetivo de qualquer organização. Mas daí a viver reunindo-se por qualquer motivo, esperar que todas as atitudes sejam fruto de consenso e ficar avaliando performance em vez de atacar o mercado, pode ser uma atitude perigosa que coloca sua empresa definitivamente na coluna dos perdedores. E sempre haverá uma última reunião para se anunciar a derrota.
Walter Longo
Presidente Executivo no Grupo Abril