Liberdade para mudanças de layout, conforto ambiental e áreas de convivência estão entre as exigências das empresas atuais
- As demandas de um espaço corporativo não são poucas: para sobreviver em um mercado extremamente competitivo, os escritórios precisam de flexibilidade e agilidade para responder às rápidas mudanças econômicas e tecnológicas. Por isso, mais do que imponência e sofisticação, eficiência e economia tornaram-se condições primordiais, assim como a modularidade e a otimização dos espaços.
- Se no passado havia a preocupação em esconder a fiação, hoje as tomadas são alocadas sobre as estações de trabalho e são muito mais numerosas diante da grande quantidade de dispositivos eletrônicos. Ao mesmo tempo, acompanhando o movimento de parte do mundo empresarial de valorizar os recursos humanos, o conforto e a agradabilidade do ambiente de trabalho são cada vez mais almejados, até porque influenciam a concentração e a produtividade dos funcionários. “Algumas empresas já perceberam que o capital humano é o seu maior recurso e que, portanto, é preciso oferecer todos os meios necessários para essas pessoas executarem seus trabalhos plenamente”, comenta Cláudia Andrade, pesquisadora de arquitetura em escritórios e arquiteta da Saturno Arquitetura.
- Assim, não é exagero afirmar que a distribuição física dos escritórios de ponta está se tornando mais humana. Isso se reflete tanto no cuidado com a qualidade ambiental, sobretudo com relação à iluminação e aos tratamentos térmicos e acústicos, quanto na criação de locais para interação entre os membros da equipe.
- No entanto, apesar de alguma evolução, os escritórios brasileiros ainda têm muito que melhorar, segundo Cláudia. “Na maior parte dos casos, não se entende a importância de se investir no ambiente de trabalho. Em vez de adquirir uma estação de trabalho que duraria dez anos, as empresas preferem gastar o mesmo valor em um computador que dura três vezes menos”, compara.
MOTIVAÇÃO E BEM-ESTAR
- O espaço que a arquiteta Heloisa Dabus tinha à disposição para projetar o escritório da Redecard, em São Paulo, não era nada modesto. Ao todo, a sede administrativa da empresa que faz transações de cartões de crédito e débito incorpora seis andares e meio, com lajes de aproximadamente mil m², além de dois andares de subsolos. O projeto deveria proporcionar conforto aos funcionários e atender a demanda por flexibilidade, já que a empresa constantemente sofre modificações de layout. Dessa forma, no acesso a cada andar-tipo foram criadas “caixas” de salas de reunião.
- No meio dessas salas, divisórias de vidro e persianas foram instaladas com uma leve inclinação em relação ao piso. Isso fez com que o espaço fosse otimizado, ao mesmo tempo em que conferiu noção de amplitude e transparência. Além disso, cada andar tem sua área de convivência com bancadas de vidro craquelado, que servem também para acomodar pequenas e rápidas reuniões. Pensando no conforto e na produtividade dos funcionários, os corredores de circulação foram concebidos para não atrapalhar o andamento das atividades. “Visitantes e funcionários circulam pelos corredores protegidos por placas de vidro que contornam as áreas de trabalho.
- Assim, não há estímulos visuais ou sonoros desnecessários, sem comprometer a leveza e a transparência do local”, explica Heloisa Dabus. Nos acessos às salas, o volume do forro de madeira se destaca. A diferenciação entre os espaços se dá, também, pelo revestimento empregado nos pisos: nos escritórios, carpete em placa sobre piso elevado, nas zonas de circulação, granito flameado em réguas irregulares e, nas áreas de convivência, madeira.
MÚLTIPLAS FUNÇÕES
- Para projetar o escritório-sede da Citroën do Brasil, em São Paulo, os arquitetos da Hochheimer & Imperatori tiveram uma missão especial. Além dos escritórios e estações de trabalho, o espaço deveria integrar uma área para expor veículos fabricados pela empresa francesa e uma oficina para treinamento e capacitação de mecânicos. Um grande galpão, devidamente adaptado aos usos necessários, foi o local escolhido para abrigar todas essas atividades. “A setorização dos departamentos se baseou em um conceito urbano, imaginando uma via central de circulação e as áreas de ocupação distribuídas ao longo desse corredor”, explica o arquiteto Luciano Imperatori.
- Já a hierarquia das ocupações se define pelo tipo do fechamento dos ambientes. As salas dos diretores e de reuniões têm fechamento de painéis de drywall mais altas que em outras áreas, além de forro acústico para garantir privacidade. Os grupos de trabalho, por sua vez, são organizados por departamentos e distribuídos ao longo do corredor, separados por divisórias com painéis de vidro. Para garantir ampla flexibilidade de layout, o ar-condicionado é insuflado pelo piso elevado sob o qual passam também os cabeamentos elétricos, de telefonia e de dados.
- Nas áreas de trabalho foi utilizado carpete sobre piso e, na zona de circulação central, piso vinílico. O showroom para exibição dos veículos fica na parte frontal do edifício. Propositalmente, a impressão de quem passa na rua é de estar vendo uma concessionária, visto que o espaço foi projetado de acordo com os padrões da Citroën para suas revendas, servindo de modelo. O padrão também foi aplicado na área de treinamento de pós-vendas localizada na parte posterior do galpão. Pelo fato de o galpão não possuir recuos laterais, foram criadas aberturas na cobertura para permitir a instalação de jardins internos com fechamentos verticais de vidro. “Os jardins, em conjunto com os sheds da cobertura, criam uma excelente condição de iluminação e reduzem a dependência da luz artificial durante a maior parte do dia”, explica Imperatori
DESCONTRAÇÃO E SUAVIDADE
- A área disponível para o escritório da importadora de alimentos Aurora era de aproximadamente 430 m² e tomava um pavimento de um edifício comercial da Vila Olímpia, zona Sul de São Paulo. Para aproveitar ao máximo o espaço, a zona de circulação foi reduzida e toda a documentação guardada em arquivos deslizantes.
No local foram instaladas cinco salas de reuniões, uma sala para presidência, quatro salas de diretores, além de recepção. A taxa de ocupação é de cerca de 9,3 m² por pessoa. De acordo com o arquiteto Silvio Heilbut, tanto o mobiliário quanto a iluminação procuraram criar um ambiente descontraído e claro, com predominância de cores suaves e fácil de ser reorganizado. “Hoje os móveis tendem a ser menos sofisticados e certos conceitos, como o de esconder a fiação, estão ultrapassados”, diz. Assim, em nome da praticidade, tomadas ficam sobre as mesas para facilitar as conexões not, celulares e demais equipamentos.
MODERNA SOBRIEDADE
- Um dos pontos de partida para o desenvolvimento do projeto do escritório de advocacia BKBG, em São Paulo, foi a transparência. A ausência de prédios vizinhos permite uma excelente vista da cidade e, por isso, as salas foram dispostas ao longo da fachada. Para dividir a luz e a vista com o corredor e o restante do escritório, o arquiteto Olivo Gomes utilizou divisórias piso-teto de vidro e madeira.
- Havia também a preocupação com o tratamento acústico, principalmente nas salas de reuniões e dos diretores, dado o sigilo inerente à atividade desenvolvida no local. Foram criadas duas grandes áreas situadas nos extremos do andar. Em uma delas, mais fechada, ficam os setores administrativos. Na outra ponta foram distribuídas estações de trabalho para advogados e estagiários. No centro do escritório estão a biblioteca e a sala de reunião principal. Destaque para a iluminação, que, além de funcional, ressalta elementos do projeto, como a estante de livros da biblioteca que transparece assim que se entra na recepção.
AMBIENTE ACOLHEDOR
- A Fundação Kellogg é uma instituição norte-americana que se dedica a projetos e estratégias que rompam o ciclo da pobreza em vários lugares do mundo. Em 2002, a sede brasileira se transferiu de um sobrado da área comercial de Alphaville para um conjunto comercial na mesma região. A área do novo endereço não ultrapassa 1/3 da do imóvel anterior e resulta da união de duas unidades. Foi encomendado aos arquitetos um espaço de 7,50 x 15 m amplo, comunicativo e desprovido de ornamentos luxuosos, visto que se trata de uma instituição voltada à assistência social.
- A solução encontrada foi implantar o CPD (Centro de Processamento de Dados) no centro da planta, afastado do calor das fachadas. Em torno desse centro, desenvolve-se o programa. Do lado esquerdo estão as salas de reunião, sala executiva e diretoria. Já do lado direito fica todo o staff. Ao fundo, os banheiros e copa. A biblioteca aberta, logo atrás do CPD, possibilita a comunicação visual entre todas as salas. Por esse motivo, foram utilizadas grandes porções de vidro onde são ilustrados os temas de trabalho da instituição.
- Em contraposição ao vidro, para conferir um clima mais caseiro e aconchegante ao escritório, foram empregados portas e caixilhos de madeira. “A intenção é transmitir ao ambiente a relação existente entre os funcionários, como se fosse uma família”, revela Bruno Dias, da Progeta.
Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/135/artigo22740-1.aspx
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