Uma das lembranças mais vívidas que tenho de meu primeiro emprego no setor administrativo era o grande escritório. Todo aberto, com um pé-direito enorme e paredes nuas.
O ambiente era tão espartano que a única coisa que podia ser vagamente chamada de “decoração” eram os dois pomposos retratos dos fundadores pendurados na parede do fundo.
E era ali, sob os retratos, que ficavam as mesas dos diretores, estrategicamente posicionadas para que eles tivessem uma visão total do local.
De frente para a diretoria ficavam todas as demais mesas, e a hierarquia funcionava por fileiras de mesas.
Na primeira fila ficavam os chefes, para que eles pudessem ir rapidamente até a mesa dos diretores quando fossem chamados. Na última fila ficavam os supervisores.
E no meio, observados todo o tempo tanto pela frente quanto pela retaguarda, ficávamos nós, o resto dos funcionários. Cada funcionário tinha a sua mesa, e só.
Os cestos de lixo eram colocados junto às mesas dos supervisores para que eles pudessem conferir tudo o que estava sendo descartado pelos subordinados.
Um dia apareceu na empresa um pessoal estranho, bem-vestido e bem-falante. Eles se definiam como sendo “atualizados com as tendências da administração moderna”, algo que nós ali nem desconfiávamos que pudesse existir.
O grupo havia sido contratado com o objetivo de mudar a mentalidade já meio ultrapassada da empresa, a começar pelo layout.
Foram feitas salas para os gerentes, salas menores para os supervisores e pequenos salões para cada departamento.
Como tudo isso requeria espaço, o escritório teve que ser ampliado. E aí, aproveitando o embalo, foram inseridos vários itens, digamos, mais atualizados com as tendências da administração moderna, como vasos com flores, reproduções de pinturas clássicas e persianas coloridas.
O efeito foi incrível. A produtividade geral dobrou da noite para o dia.
E, para nós, tudo pareceu óbvio: quando se dá ao ser humano mais espaço e mais tranquilidade, ele funciona melhor.
O escritório havia deixado de ter aquele aspecto de estádio de futebol para se transformar em um ambiente que privilegiava a individualidade.
E o agradecimento se resumiu em uma palavra que qualquer empresa entende e aprecia: produtividade.
Tempos atrás, um funcionário de uma grande instituição financeira me contou, todo entusiasmado, a grande mudança pela qual o escritório onde ele trabalhava acabara de passar.
Divisórias foram postas abaixo e o local virou um imenso salão onde todos podiam se ver.
O resultado foi positivo em todos os sentidos. De repente, passou a ter mais espaço, mais luminosidade, mais contato humano e, principalmente, muito mais produtividade.
“Isso é o século 21!” – ele disse. E eu, tentando não melindrá-lo, expliquei que aquilo, a bem da verdade, era o século 19.
Grandes escritórios abertos, sem paredes, divisórias ou baias foram o início de toda a história, lá pela época da Revolução Industrial.
O fato de a produtividade melhorar quando a empresa constrói ou derruba muros é resultado não da engenharia, mas da mensagem que a empresa transmite: estamos mudando para oferecer melhores condições de trabalho.
E quando o profissional sente que existe uma preocupação genuína com ele, torna-se mais produtivo. Até no escuro.
-Por Max Gehringer