A pesquisa por maior qualidade de vida no trabalho e novas soluções para a arquitetura corporativa tem nos aproximado cada vez mais dos estudos relacionados à NeuroArquitetura. No artigo abaixo, Andréa de Paiva, explica esta vertente e analisa os benefícios.

Ambiente de Trabalho e Saúde Cerebral: Insights da NeuroArquitetura

Por Andréa de Paiva

Você já parou para analisar quantas horas do ano você passa no seu ambiente de trabalho? Com uma conta simples, considerando apenas 8 horas por dia e apenas os dias úteis do ano, passamos cerca de 2.000 horas ocupando esses espaços. Os impactos de tais ambientes na saúde cerebral estão diretamente relacionados ao  tempo de ocupação. Será que as empresas têm a exata noção de como sua arquitetura pode impactar a saúde mental e física de seus funcionários? A resposta é: não.

Influenciados pela revolução industrial e pelo sistema de produção em massa, inicialmente os ambientes de trabalho eram projetados buscando a mesma eficiência da linha de produção das indústrias. Dessa forma, a organização dos espaços dos escritórios visava apenas facilitar o sistema de produção da empresa. O foco estava no aumento da quantidade produzida. A hierarquização dos ambientes, a localização de cada equipe e dos seus líderes e até a decoração das salas eram planejadas com foco apenas na produção, como numa fábrica. Porém, ao contrário das fábricas que funcionam majoritariamente com base no trabalho de máquinas, os escritórios funcionam com base no trabalho de pessoas.

O resultado disso são ambientes de trabalho desumanizados, sem identidade. Ambientes que prejudicam a saúde mental e física das pessoas que os ocupam, com impactos diretos nos níveis de stress e ansiedade. Espaços que podem aumentar conflitos, falta de colaboração e de comunicação, insegurança, dificuldade de concentração, ausência de criatividade.

Atualidade

Infelizmente, ainda hoje as empresas têm dificuldade de se desvencilhar desses ideais de produção. Porém, com a revolução tecnológica que tem acontecido nos últimos anos, cada vez mais estão sendo valorizadas as características humanas que as máquinas não conseguem (ainda) substituir. Dessa forma, os espaços passam a ser construídos com foco nas pessoas e sua capacidade criativa, comunicativa e colaborativa. A qualidade do trabalho passa a ser mais valorizada do que a quantidade.

A NeuroArquitetura vem para ajudar na criação de espaços mais humanos de trabalho. São inúmeros os elementos do espaço físico que impactam diretamente na capacidade cognitiva, nos níveis de atenção, na criatividade e no aprendizado. Cores, formatos, tamanhos e proporções, layout do ambiente, isolamento visual e sonoro são alguns exemplos. Como combinar esses diversos elementos para criar o ambiente ideal?

Antes de mais nada, a NeuroArquitetura tem mostrado que não existem fórmulas prontas a serem seguidas. Um ambiente eficiente de trabalho só pode ser criado quando os arquitetos sabem quem são os profissionais que ocuparão aquele espaço. Eles também devem conhecer qual a tarefa que será executada ali. O contato com a natureza (biofilia) e a diversidade sensorial e de ambientes são exemplos disso. A escolha de materiais, a organização do layout e a criação de ambientes alternativos de ocupação são pontos chave.

Alguns exemplos práticos:

  • Elementos que remetam à uma paisagem natural podem diminuir os níveis de stress e aumentar a concentração;
  • A riqueza sensorial obtida através da utilização de texturas, cores, formatos e odores estimula o processo de aprendizado e memorização;
  • A organização do layout pode estimular a colaboração e comunicação entre equipes;
  • Salas de reunião e salas de telefonemas aumentam a sensação de controle por parte dos funcionários, diminuindo o stress e gerando alternativas para aumentar a privacidade e, consequentemente a concentração.

Ainda é grande o número de empresas e espaços de trabalho que sofrem influências do sistema de produção em massa. Ou seja, muitas pessoas ainda têm que trabalhar em espaços desumanizados. Eles impactam negativamente tanto na sua performance como na sua saúde física e mental. Por isso, cabe também aos arquitetos o desafio de transformar mentalidades que ainda estão presas a valores ultrapassados.

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