Pequenos auditórios:
conheça os cuidados exigidos por estes espaços em relação à iluminação, ergonomia e materiais de acabamento O rendimento acústico de um auditório onde serão ministradas apenas palestras não depende muito da volumetria local, pois o espaço é atendido por sistemas eletroacústicos que fazem a distribuição e cobertura sonora. O acabamento da sala, no entanto, deve ser bem pensado para dar suporte ao sistema eletrônico. “Estes auditórios requerem materiais absorventes para evitar a formação de ecos ou de energia acústica tardia, que ocorre após 100 milissegundos do som direto”, explica o arquiteto José Augusto Nepomuceno, da Acústica & Sônica Consultores em Acústica.Ripados de madeira com lã de vidro no fundo, painéis de lã de vidro com tecido e madeira perfurada são alguns dos materiais ou sistemas de absorção acústica que podem ser utilizados.
Em auditórios destinados também à música não amplificada, por exemplo, a resposta acústica do espaço está intimamente ligada à sua volumetria e geometria. “Não está apenas ligada aos materiais de acabamento, como usualmente ainda se pratica no Brasil. Esta preocupação é mais crítica para os auditórios que querem receber música ou pequenas apresentações artísticas”, acrescenta Nepomuceno.
Além de valorizar a arquitetura de interiores, o sistema de iluminação deve ser compatibilizado com os detalhes da arquitetura, da acústica (revestimentos de parede e forros) e com os demais sistemas de controle. O ideal, segundo o arquiteto Carlos Fortes, da Franco + Fortes Lighting Design, é que toda a iluminação seja dimerizada e separada em diferentes grupos (como luz de balizamento, de palco e de plateia). “É preciso considerar as condições de leitura e escrita do usuário sem que isso interfira nas projeções”, revela.
Segundo a lighting designer Cristina Maluf, um dos erros mais comuns no projeto de iluminação de pequenos auditórios é o excesso na quantidade de pontos de luz, que confere uma aparência de poluição visual ao forro e ao ambiente. “Pode-se evitar isso projetando um sistema de iluminação integrado, que pode ser composto por um sistema de iluminação geral, como o exemplo do uso de fluorescentes e halógenas, iluminação de palco para diversas situações e iluminação de contorno e de piso”, diz Cristina. Todo este sistema somado deve proporcionar um nível de iluminação mínima de 300 lux, exigido pelas Normas Brasileiras para a plateia.
Geometria e acústica :Do ponto de vista acústico, o ideal é situar o auditório em uma área distante de zonas potencialmente ruidosas, como próximo às casas de máquinas, ventiladores, sistemas de ar-condicionado com ruídos ou emparedados com banheiros. “Locais protegidos de ruídos externos exigem menos investimento em isolação acústica, reduzindo também o peso da construção. Por isso, é recorrente a instalação de pequenos auditórios em subsolos ou no interior do edifício”, ressalta o arquiteto José Ovídio Ramos, consultor da Livre Arquitetura e professor de conforto ambiental da UniFiaam-Faam.
Outro item que, segundo Ramos, pode comprometer o desempenho acústico do auditório, é o uso excessivo de absorção para ambientes sensíveis, tornando-os “surdos”, de forma a prejudicar a adequada propagação sonora, o equilíbrio e o conforto acústico do ambiente.
Com relação à geometria, a recomendação é evitar formas concentradoras de raios sonoros e paredes em leques. Recursos arquitetônicos como foyers, halls e antecâmaras contribuem para o amortecimento de ruídos externos. Pisos e forros inclinados, tratados com superfícies adequadas para reflexões de reforço ou absorção também devem fazer parte das preocupações de projeto. “Portas acústicas e acessos com revestimentos absorventes amortecem os ruídos vindos de fora e os silenciadores também podem ser especificados para garantir isolamento acústico em sistemas de ventilação, pois evitam a transmissão dos ruídos dos equipamentos para o interior do recinto”, completa Ramos.
Iluminação:A iluminação dos acessos pode ser resolvida com balizadores embutidos nas paredes, nos degraus ou mesmo nas laterais das cadeiras. O contorno do ambiente também deverá ser iluminado, o que pode ser feito com um negativo ou uma sanca ou mesmo com luminárias direcionadas para a parede de forma a proporcionar o que se chama de wall-washer, ou seja, banho de luz nas paredes.
Outro ponto importante é evitar qualquer tipo de ofuscamento, o que pode ser conseguido com a especificação de luminárias com controle antiofuscamento recuadas ou que possuam louver parabólicos ou grelhas honey-comb. O posicionamento dos equipamentos e a interação da iluminação com os detalhes do forro também são importantes para evitar que a plateia sinta-se desconfortável. Como normalmente os materiais de revestimento das paredes são escuros e, em alguns casos, até mesmo pretos, a recomendação é dispensar brilhos para evitar reflexos.
Normas em falta:O uso de modelos inadequados de poltronas e a insistência em projetar assentos especiais – em vez de utilizar modelos já consagrados – figuram entre os erros mais comuns em projetos de auditórios. “Há vários aspectos de conforto, segurança, manutenção e produção que são solenemente ignorados pelos arquitetos. Eles entendem que o projeto de um assento de auditório é simples e de concepção primária, mas é bastante complexo e, em outros países, feito e produzido por empresas específicas e especializadas”, observa Freddy Van Camp, designer e professor da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Para não cometer erros e garantir a longevidade e a facilidade de manutenção do mobiliário, o ideal é especificar poltronas com espumas antichama, tecidos não propagantes, estruturas metálicas resistentes e testadas, e com materiais de longa duração – como moldes de assento e encosto injetados. Apesar de não existir normalização nacional, Van Camp lembra que já é possível encontrar produtos que seguem as prerrogativas de segurança adotadas em outros países.
Aliás, quando o assunto é falta de normalização, o mercado de materiais com apelo acústico também sofre. “Parcela significativa dos fabricantes não possui ensaios de desempenho nacional e, quando consultados, enrolam engenheiros e arquitetos com informações secundárias ou ensaios estrangeiros sem validade no Brasil”, conta Ramos, lembrando que a oferta de revestimentos de forro é satisfatória, mas ainda há poucas opções de piso e paredes. “Também temos pouca oferta de mobiliário e de portas e janelas”, completa. Ergonomia | Freddy Van Camp | designer e professor da ESDI/UERJ Que tipo de poltrona deve-se evitar em projetos de auditórios?
O uso de poltronas fixas, com assento e encosto fixo e sobre longarinas – como as que são usadas em salas de espera – é muito comum e totalmente inadequado. São mais frágeis e se tornam um perigo em caso de pânico ou de evacuação de urgência, por ocupar maior espaço. Outro erro comum é a utilização de materiais duros como plástico, vinil e madeira, que tornam a acústica dos auditórios problemática.
Quais seriam as características ideais dos assentos?
Devem ser especificados, obrigatoriamente, assentos rebatíveis. Melhor seria se o assento e o encosto fossem retráteis, de forma coordenada, facilitando a circulação. Os apoios de braços devem ser individuais, em todos os casos, e as dimensões, adequadas a todo tipo de usuário.
E quanto ao encosto, alguma recomendação especial?
O ideal é que o encosto tenha uma moldagem em curva e com ressalto para apoio lombar. Não é necessário que haja muita espuma. Os apoios de braços devem ser individuais, em todos os casos, e as dimensões, adequadas a todo tipo de usuário, não importando seu tamanho, idade ou se é ou não portador de necessidades especiais. As distâncias entre filas deveriam ser de, no mínimo, 80 cm, mas essa situação é cada vez mais rara de ser encontrada.
Iluminação | Cristina Maluf | arquiteta do escritório Cristina Maluf Arquitetura de Iluminação Podemos falar em lâmpadas mais ou menos indicadas para auditórios?
Deve-se projetar um sistema de iluminação com diferentes lâmpadas que atendam a diferentes atividades. Um exemplo seria um auditório com fluorescentes dimerizáveis integradas com outro sistema de lâmpadas halógenas dicróicas, também dimerizáveis, de forma que seja possível criar cenários para diversos usos.
Quais são os erros mais comuns na iluminação de pequenos auditórios?
O excesso na quantidade de pontos de luz resulta em poluição visual no forro e no ambiente. Fontes de luz com fachos muito concentrados e intensos, como lâmpadas AR111 ou outras de iluminação cênica, muitas vezes utilizadas para iluminar a plateia, geram ilhas de luz e aumento de calor, induzindo ao uso mais intenso do ar-condicionado. Mas uma das maiores distorções ainda está no fato de o cliente não ter clareza sobre a relação entre o custo-benefício de certas soluções. Em situações de pé-direito muito alto e sem passarelas para manutenção, a melhor solução para a plateia poderia ser equipamentos com leds, com investimento inicial maior, mas com vida útil entre 35 mil e 50 mil horas, além de diminuir a carga térmica do ar-condicionado.
É possível fazer um projeto apenas com led?
Dependendo do projeto e do tamanho da caixa acústica, sim. Mas ainda é preciso cuidado, pois todos esses equipamentos devem ser testados antes: são geralmente muito ofuscantes e têm menos intensidade do que uma lâmpada. O ideal é evitar a aparência de cor muito branca.
Acústica | José Augusto Nepomuceno | arquiteto do escritório Acústica & Sônica Consultores em Acústica Que parâmetros devem nortear o projeto de acústica dos auditórios?
O projeto deve prever condições de baixos níveis de ruído de fundo, excelente inteligibilidade da palavra falada e sistema de áudio com cobertura eficiente e natural. Os demais parâmetros variam com as especificidades de cada projeto.
Até que ponto a geometria e a volumetria interferem na acústica?
Em alguns auditórios a execução de música não amplificada é inviável, pois são demasiadamente largos, perdendo o senso de envolvimento acústico; ou são extremamente baixos, com 4 m ou 5 m, tornando o nível sonoro muito elevado e distorcido.
E em espaços destinados apenas a aulas, palestras e conferências?
O rendimento acústico de um auditório cujo programa central é palestras depende menos da volumetria do local, porque é atendido por sistemas eletroacústicos, que fazem a distribuição e cobertura sonora. Estes auditórios tipicamente requerem materiais absorventes para evitar a formação de ecos ou de energia acústica tardia. Fonte: ArcoWeb |
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